Por Rubens, o Jardineiro Poeta

30 de mai. de 2011

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Função do amor é fabricar desconhecimento
(o conhecido não tem desejo;mas todo o amor é desejar)
embora se viva às avessas,
o idêntico sufoque o uno  a verdade se confunda com o facto,
os peixes se gabem de pescar
e os homens sejam apanhados pelos vermes
(o amor pode não se  importar se o tempo troteia,
a luz declina, os limites vergam
nem se maravilhar se um pensamento pesa como uma estrela
o medo tem morte menor;
e viverá menos quando a morte acabar)
que afortunados são os amantes
(cujos seres se submetem  ao que esteja para ser descoberto)
cujo ignorante cada respirar se atreve a esconder 
mais do que a mais fabulosa sabedoria teme ver
(que riem e choram)
que sonham,
criam e matam enquanto o todo se move;
e cada parte permanece quieta.
Rubem Alves

27 de mai. de 2011

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Um descaminho
Eu caminho
Você avalia
A sociedade avalia
Os deuses avaliam
E isso não quer dizer nada

Sabe a que velocidade
essa bola azul viaja no espaço?
Um turbilhão de anos luz
Em corredores infinitos
de cores não vistas
De cores não vistas

Espirais calossais
Espinhas dorsais
De gigantes do espaço
Olhos de fogo
De eras passadas
Nos assistem

Ecos fósseis
Gigantes mortos
e gelados
em seu último
brilho
Seu último
cuspe de fogo
Atravessando a
eternidade de ponta
a ponta

E você avalia?
O que?
Quem julga um coração
que se abre ao infinito?

Somos a pequena bola
azul
escorregando em mãos
de gigantes de luz.
Galáxia Colossal
Sorri!
diz: eia! pequeno

E você avalia?
O que?
Meu descaminho?
Meu pé torto?
Minha tatuagem?
Minha dor?

Viajando no infinito
Efêmeros passageiros
da epopéia cósmica
através do tempo
do espaço
do intangível
do inalcansável
do insondável
do não efêmero
do verdade comovente
da beleza infinita

E te avaliam?
Você quer
Tem medo?
Tem vergonha?
Vai esperar?
O que?

Sua vida
Sua chance
A eternidade
A seu alcance


Israel

17 de mai. de 2011

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Vislumbro seus olhos
Me procurando no abismo
Mas o abismo é só outro lado

Do outro lado do abismo
um novo céu aguarda
com novas estrelas

Por mais fundo que eu vá
Saiba que em algum lugar da sua alma
Estou confortável, 
eternamente sorrindo
para você.
Sem dor, sem preocupação.

E quando você quiser me achar
Olhe dentro de você
veja meus olhos, 
veja um lindo amanhecer
de uma manhã triunfante.

Israel
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Ele me olhava com toda inocência
E no seu olhar profundo e escuro
eu via toda raça humana
O desejo velado de amar e destruir
tudo que vive, sente
Tudo que anseia por calor, proteção

Os mais altos prédios são feitos de ossos
e sangue milenares, ancestrais
Desde eras glaciais o grande jogo
da evolução, beleza e dor
Nossa inteligência não foi suficiente
para ir além disto, beleza e dor

E quando a primeira grande bomba
cruzar o céu e tocar o solo, formando uma
linda flor de fogo no horizonte
Alguém vai chorar dizer: isso é realmente
a coisa mais linda que já fizemos
E virá o tempo do silêncio

Nossas selvas de pedra serão tomadas pelas formas
mais inocentes de vida, do duro concreto rachado
brotarão pequenas flores, os cipós escalarão
os arranhacéis.
E qualquer um de nós que pudesse ver
choraria e diria:
essa é a coisa mais linda que já fizemos.

Israel

13 de mai. de 2011

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Ar para desufocar
Ar para voar
Ar para aerear
Ar para amar.

Nesse sufoco diário
o ar necessário
é encontrado no mais sintético dos cubículos...

A.M.


Jogo de Cartas

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Ando sem paciência até para cortejar as palavras
Ataco os vocábulos,
As devoro, e as vomito com frieza e sem dor
A humanidade não gosta de delicadeza
Por isso dilaceram minha alma, minha paz e meus olhares
Como vingança os privo do que sou e do que tenho
Serei tão rude quanto um pingo de chuva
Inconveniente, frio, solitário...


Ah!Um pequeno blefe, amados esquecidos
Não pertenço a este lugar
Se minto é para me guardar
Não sou semelhante a vós
Meu sorriso leve deveria ser um convite
E não uma afronta


Minha irreparável crença
Será minha recompensa

E seu castigo diário.

Amanda Medina.

2 de mai. de 2011

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Um susto
Somos dois
Te sinto...distinto de mim


Momento epifânico
Me julgas...
Não o faça!
Ou serás seu fim
como meu.


Desprotegida
Preciso de uma melodia doce pra adormecer
Devolva-me meu refúgio
Nossa cabana de cobertores
Um Sol no meio da sala
Um sorrizo no escuro
Nossos discos letárgicos
Pilhas de livros
Vinhos moribundos
Brinquedos... bolhas de sabão
Telescópios e planetários
Rock e Blues

Não me arranque isso
Seja parte de mim

Não atreva-se a ser injusto
Acolha meus olhares
Ampare meus abraços
E entenda que quando eu te odiar
É porque preciso do seu amor, orgulho burro.


Não me contamine.
Viver  como curingas,
Caçando estrelas.
Esse era o plano...
Não me envenene
Não sigo seus padrões de perfeição
Não sigo seus padrões.

E se ainda assim
Minha inafável inadequação
Encantou você
A aceite, ou me deixe ir
Estarei no meu farol
De frente pro mar.

Um surto
somos dois.

Amanda Medina