Pelos muros pichados na cidade
Sente-se a ira dessa gente alada,
Povo bonsai, que de tempos em tempos poda suas raízes
Técnica lenta e dolorosa
Que resulta num não crescimento
Se movem pelas máquinas
pois os corações deformados
Apenas pulsam, nunca amaram.
Contudo, penetra a atmosfera cinzenta
Um casal de sexagenários
Gente de raízes profundas
Do tempo das varandas e dos namoros de muro
Olhar elevado, vasculhando...
E derrepente, não mais que derrepente,
Um sorriso! Me comovo com sorrisos inesperados
Ainda é outono, e há andorinhas nos fios telefônicos.
Talvez uma dúzia
Para lembrar os pequenos cariocas, empurrados do ninho, sem asas.
Mais umas esquinas, horário de rush.
Um casal estudantil me leva aos primórdios do sentimento
Pensam estar seguros, longe dos portões da escola
Afastados do olhar rígido de um pai que esqueceu-se do desejo
Não imaginam nada além das sutilezas do próximo gesto
Não imaginam nada além das sutilezas do próximo gesto
Mais um sorriso apaixonado
Sutilezas da delicadeza do querer bem
Sutilezas da delicadeza do querer bem
Mal sabem eles o qual observados são...
Minhas manias de observação
Me levam a um contemplar dos sinais de alegriaMinhas manias de observação
Uma caçada árdua nesse dia sem Sol
E quando dava minha busca por encerrada
E quando dava minha busca por encerrada
Mais um sinal: Uma secretária e sua provável filha, uniformizadas,
De mãos dadas embaixo de um guarda-chuva azul
Passinhos ágeis seguem o elegante salto alto
Em meio a correria elas param.
E um abraço sufocante, tira o ar dos que não tem tempo
E um abraço sufocante, tira o ar dos que não tem tempo
Ocupados, desafetuosos, mecanizados.
Entao não me diga que não há espaço para afeto
Não nessa cidade tão poética.Entao não me diga que não há espaço para afeto
Sei que ainda brota um jardim desse estéril cimento.
Amanda Medina.
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